
Para quem frequenta o Ecossistema Lagamar, a quantidade de insetos impressiona e assusta: até porque boa parte deles fazem de tudo para tirar o sangue dos visitantes. Por conta da junção entre mata e mangue, nossa região é
um paraíso para esses bichos incômodos. Não adianta mascarar: o Lagamar não é recomendado para pessoas alérgicas a picadas de insetos.
Ainda bem que há também uma quantidade impressionante de insetos lindos, e especialmente uma variedade imensa de borboletas, de todos os tamanhos, cores e formas.
Também tem muitos outros animais interessantes e menos agressivos.
Do próprio hotel, é possível escutar com frequência os uivos e gritos dos grandes bandos de bugios que, contudo, nunca chegam perto o suficiente para serem avistados. Outros macacos, como o divertido macaco-prego, também estão presentes.
Os caiçaras ainda caçam muito na região, apesar de proibido, e a maioria dos animais está assustada demais para deixar o ser humano se aproximar. Uma curiosa exceção é um dos pássaros mais lindos dessas bandas, que aqui chamam de surucuá-do-papo-amarelo (embora o que ele tenha de amarelo é a barriga – ah, quanta imprecisão nos nomes populares!): é possível aproximar-se dele até uns dois-três metros - ele não parece ter medo, e só levanta voo quando chegamos perto demais.
Outro pássaro notável e fácil de se avistar e de chegar perto é o colheireiro, muito comum no mangue, além das grandes revoadas de garças - não as pequenas garças comuns em nossas cidades, mas as majestosas e grandes garças selvagens. Avistamos daqui os casais de papagaio-do-peito-roxo, dezenas e mais dezenas deles, os quais são endêmicos da região, os tucanos de bico verde, de bico preto, e uma imensa variedade de outras aves, mamíferos, répteis e outros seres que dão à Mata Atlântica o título de ecossistema mais rico do mundo.
As ostras
As ostras do Lagamar fizeram a fama (gastronômica) de Cananéia: durante anos, até surgir em Florianópolis o cultivo de uma espécie de ostras importadas da Malásia e da Indonésia, as ostras de Cananéia eram as únicas produzidas em escala industrial no Brasil. Elas têm o mérito de ser uma espécie nativa e endêmica do estuário, uma das poucas ostras do mundo de água salobra (tanto que, na hora de degustá-las, ficamos acostumados a acrescentar uma pitadinha de sal, para compensar a sensação de falta do sal da água marinha). Muito, muito melhores que aquelas asiáticas de Santa Catarina, que pecam pelo excesso de gordura quase revoltante (por isso, o costume de prepará-las fritas, empanadas, ou ao bafo, enfim, de qualquer jeito que não seja cruas).
Foi um francês, Jacques, nosso vizinho, que na década de setenta lançou o cultivo, a produção maciça e o comércio organizado das ostras de Cananéia.
Os peixes
Outro destaque do Ecossistema Lagamar são os peixes: a maioria dos
turistas em Cananéia vem para as pescarias, com destaque especial para os robalos. Pode ser conto de pescadores, mas nos disseram que há um lugar (uma cachoeira caindo na água do mar) onde dá para pescar os robalos no ar!, isto é, oferecendo as iscas sem nem jogá-las na água (balela? venha verificar). Durante alguns meses do ano, há também fartura de tainhas de tamanho incomum.
Os mexilhões
Os mexilhões de Cananéia (ainda) não são tão famosos quanto as ostras. Pretendemos inseri-los nas listas de produtos culinários especiais, limitados a um lugar específico, do movimento Slow Food. Os mexilhões do Lagamar crescem na lama do mangue, e adquirem por isso uma cor amarronzada, que pode afugentar os consumidores acostumados com as cores vivas e claras (laranja e branco) dos mexilhões de cultivo no mar. São pequenos, escuros e meio feios, mas bem mais gostosos, garantimos.
Os guarás
Nos canais e nas áreas alagadas em volta de Cananéia, é possível avistar os guarás, lindíssimos pássaros de uma maravilhosa cor rosa salmão alaranjado vibrante.
A cidade de Guaraqueçaba ganhou esse nome porque era uma área onde viviam aos milhares, e havia, até pouco tempo atrás, um monumento de concreto e gesso reproduzindo dois guarás de seis metros de altura na praça central. Por causa da plumagem tão atraente, os guarás foram caçados sem piedade e chegaram muito perto da extinção: agora, graças à proteção rigorosa e aos parques em seu habitat, eles voltaram a enfeitar os mangues do Lagamar.
Os botos cinza
Esses graciosos primos menores dos golfinhos do mar são uma das vedetes do Lagamar: é realmente difícil não cruzar com eles numa travessia de balsa e, para quem quer vê-los de perto, há várias excursões que levam para os lugares em que costumam aparecer com mais frequência e bem próximos.
Os pitus
Os pitus são camarões de rio, que podem chegar ao tamanho de um lagostim, ou de um camarão–pistola, e rivalizam com eles em valor gastronômico. Costumam povoar os rios, riachos e córregos de águas cristalinas, não poluídas, da Mata Atlântica. Assim como as trutas no Velho Continente, eles são um excelente indicativo da pureza da água de um rio. Por causa da procura por sua deliciosa carne, é cada vez mais raro encontrá-lo de bom tamanho, mas os de pequenas dimensões pululam nas cachoeiras que descem da serra que circunda a pousada. No dia seguinte ao enchimento da grande cisterna dentro da mata já havia cinco ou seis pitus nadando nela, provavelmente por terem sido ‘sugados’ pela mangueira, que ainda não tinha um filtro fino.